O Poema-parasita e a Poeta-hospedeira
ou Como eu nunca busco escrever poesia, ela que busca por mim
Diferente da prosa, a escrita de poesia dificilmente é uma busca consciente, para mim. Em diversas tentativas de defini-la, cheguei à conclusão de que ela é um parasita.
Sim, a poesia é um agente que vive dentro do meu organismo. Ela é um corpo, uma vida que vai crescendo, bem quietinha, enquanto eu vivo. Ela cresce no meio da loucura, do caos da rotina, dos afazeres infinitos. Cresce e cresce, até não caber mais aqui dentro. Até querer ser por si própria.
Mas ela não sai do nada. Ah, não, a poesia não se preza a essa facilidade. Ela espera o momento propício. Esse momento pode ser quando estou no banho, prestes a dormir, lavando a louça… basicamente, quando paro de pensar no que preciso e dou um espaço pra minha mente vagar, ser livre.
A poesia nasce da liberdade da minha mente.

Não consigo me dedicar com consistência à criação literária, especialmente a poética. É um processo que, para mim, simplesmente se recusa a seguir cronogramas. Eu até tento ser regrada, criar metas… mas ainda não consegui controlar a Senhora Poesia.
A prosa é mais gentil, é mansa comigo. Consigo domá-la, especialmente por aqui, na newsletter. Já com a poesia, dependo da maturação de sentimentos.
É que eu preciso que os meus sentimentos se acumulem ao longo do tempo, fiquem velhos e maduros. Depois desse processo, ele pode (ou não) ser atacado pelo Poema-parasita. Quando atacado, esse sentimento certamente se transformará em poesia. E, é claro, enquanto isso, eu sou a sua hospedeira.
Assim o Poema-parasita vai crescendo, se alimentando dos meus sentimentos — que, por sua vez, são alimentados por mim. Quanto mais tempo eu dedicar em fazer crescer o sentimento, melhor a poesia. Pode levar anos.
Mas um dia ela precisa sair.
E quando esse dia chega, ela se move, inquieta, esperando a melhor oportunidade de se libertar. Às vezes, isso significa lutar contra o sono, sair correndo do chuveiro, pegar um caderno ou abrir um bloco de notas no celular, sabendo que, se não anotar, algo importante pode se perder para sempre.
Foi exatamente assim que um dos meus últimos poemas surgiu: depois de um dia cansativo, quando eu estava pronta para dormir e bem acomodada em meu travesseiro, me vieram alguns versos. E eles não paravam de vir, insistentes e urgentes que eram. Enfim cedi àquela inquietação, peguei meu celular e os registrei no bloco de notas, de qualquer jeito.
Depois disso, não olhei para esses versos por meses. Permaneceram intocáveis. Mas nunca esquecidos.
O Poema-parasita tinha vida própria. Vez ou outra, em momentos de mente livre, os versos retornavam a mim, me lembrando de sua existência e exigindo que eu os revisse.
E então, num dia inesperado, como se o próprio poema decidisse que estava pronto, decidi relê-los. As palavras jogadas, antes pedaços soltos de uma ideia, finalmente se uniram de forma coesa, transformando-se enfim em poema. Agora um poema inteiro, não mais parasita. Ele tinha sido, enfim, colocado no mundo.
Mas a questão é: ele precisou de tempo para encontrar sua forma completa.
Porque para mim, a poesia, diferente da prosa, tem seu próprio ritmo. Ela vem quando quer, e só se revela inteiramente quando está madura o suficiente para ser expurgada.
Talvez seja isso que torna o ato de escrevê-la tão fascinante e, por vezes, frustrante: ela nos lembra que, para que a criação literária se faça, precisamos permitir que nossas ideias tomem o tempo que precisam para viver e, por fim, serem libertadas.
Então, escrever poesia, para mim é assim: um encontro que se dá quando a mente e o corpo estão prontos, mesmo que não saibam disso.
E para você, como a Dona Poesia se manifesta?
Estava com saudades da newsletter 🥰 então, para mim, ela não se manifesta🤣 não sou muito chegada a poesia. Esperando mudar isso, até comprei um da Hilda Hist (te mostro depois). Lendo seu texto, lembrei do envelhecimento de um vinho. Tem coisas que não seguem metas, tem o seu tempo para surgir e ficar "pronto". Falando em termos gerais, essa coisa de surgir no banho, ou acordar de madrugada e ... pimba! E ainda ter que correr, pois o negócio precisa ser anotado, eu entendo! Já me aconteceu isso 🤣 se não anota, já era🤣 eu adorei a criatividade desse texto!
aaaaa tava com saudades de ler algo seu, amiga!!!!! não escrevo poesia, mas te entendo um pouco ☝🏽☝🏽 já me ocorreu antes de dormir várias vezes, eu até passei a deixar um caderninho do lado da cama caso alguma coisa apareça na mente 😣