Por menos publis e mais propagandas
Com o que estamos realmente preocupados: ler ou comprar?
Nesses dias, conversando com meu namorado, que estuda gestão comercial, ele me fez uma pergunta: você sabe dizer qual é a diferença entre publicidade e propaganda? E como eu sou uma pessoa que gosta de entender teorias por meio de exemplos, é claro que relacionei essa ideia ao universo dos livros. Aí eu pensei: poxa, isso daria uma edição super legal pra newsletter!
Quando pensamos em publicidade, pensamos em venda. É sobre criar campanhas chamativas, fazer postagens nas redes sociais, gerar compras e ganhar espaço no mercado. Tipo quando a pessoa posta um story e deixa escrito “publi” no cantinho, sabe? Não é difícil perceber como a visibilidade se tornou uma moeda de valor, e não seria diferente para as pessoas que escrevem e leem.
Já o conceito de propaganda é mais profundo. Ela, além da relação com vendas e mercado, também diz respeito à disseminação de ideias, à influência cultural. Vem do verbo propagar. Aqui, me veio a ideia de impacto, de como os livros moldam os nossos pensamentos, nos fazem questionar e criam discussões que vão além do que está nas páginas. Sobre realmente ler, interpretar, tirar algo de bom daquilo.
No mundinho literário das redes sociais — em que estou, e provavelmente você também, se lê a minha news — a promoção de livros é intensa. Isso, por si só, não é ruim. Afinal, queremos que as obras cheguem ao maior número de pessoas possível, né? Eu mesma sou uma pessoa que adora recomendar e receber recomendações de boas leituras.
Gosto bastante de vídeos do tipo: “livros que falam sobre as dificuldades da vida adulta”, “se você gostou de x livro, pode gostar de y”, etc. Só que em meio a tantos conteúdos focados principalmente em recomendar, acho que a essência das obras pode acabar se perdendo ou se resumindo a uma única frase ou conexão. Mas, enquanto leitores, bem sabemos que os livros geralmente tomam diversos caminhos, são complexos e cheios de temáticas.
Pensando nesse sentido, sinto que o nosso nicho está mais saturado de publicidade do que de propaganda. Percebo um grande esforço para possuir uma grande coleção de livros; ter em mãos os lançamentos mais recentes; comprar edições e mais edições; ler, ler, ler e ler — o que também significa vender, vender, vender e vender/comprar, comprar, comprar e comprar. Mas será que ainda estamos realmente preocupados em debater o que essas obras têm a dizer? Será que um dia estivemos?
Sei que há espaço para tudo, e não estou aqui para criticar as recomendações e muito menos compras de livros. Afinal, vou continuar comprando — e adorando comprar — livros, criando e consumindo vídeos curtos sobre literatura. Mas eu não quero perder de vista que a leitura é e sempre foi algo mais profundo do que só mais um produto do sistema capitalista. Quero continuar a ver os livros como possibilidades de conhecer algum assunto ou cultura mais a fundo, como algo que me convida a pausar, refletir e me conectar.
Acredito que seja natural criarmos conteúdos curtos e mais superficiais sobre livros, porque pode ser muito conveniente pra quem tem uma rotina corrida e ainda assim adora ouvir falar sobre o assunto, por exemplo. Mas também acho que não podemos esquecer que criar conteúdos mais densos, completos e demorados sobre os livros não é perda de tempo ou simplesmente “aquele que dá menos engajamento”.
Talvez o melhor caminho seja criar — ou migrar para — espaços mais saudáveis. Espaços onde o valor de uma obra não é medido apenas pelo número de cópias vendidas ou seu preço na Amazon, mas pelo impacto que ela gera naqueles que a leem.
É! Poisé! Antes eu estava procurando livros para indicar no clube (leituras 2025) e fiquei assustada. Eu não tenho muitos livros sobre feminismo, relações afetivas, abandono, que conversem sobre os mais diversos aspectos da vida adulta, política, movimentos, que tragam questões importantes e que precisam ser discutidas. Isso me fez pensar nas referências literárias que eu tinha até então e nos perfis que eu acompanhava. Creio que preciso ser mais seletiva😅 a publicidade é imensa né? A gente espirra e brota anúncio do maior sucesso do booktok ou coisa parecida.
amei o insight que você teve em conciliar a diferença entre as duas palavras, pois, pessoalmente falando, acabo às vezes atribuindo uma coisa à outra, mas faz total sentido o que você trouxe! está faltando a propagação real, a troca genuína, e é por isso que tenho naturalmente me afastado de perfis “bookstans” que só me geram mais vontade de gastar (no que, no fim, acabarei nem lendo), fora a ansiedade! enfim! necessária, como sempre. ♥️